Em um artigo apresentado no IV Congresso Psicanalítico Internacional, em 28 e 29 de setembro de 1918, em Budapeste, Freud expôs que a psicanálise deveria ser direito de todos os cidadãos, ricos ou pobres. Defendia uma psicanálise gratuita e bancada pelo Estado aos que não pudessem pagar o atendimento. Esse discurso de Freud, publicado como “Caminhos da psicoterapia psicanalítica” em 1919, impulsionou a primeira e segunda geração de psicanalistas a criarem clínicas gratuitas de atendimento psicanalítico nas instituições de formação de psicanálise e a participarem ativamente na elaboração de políticas públicas. O próprio Freud apoiava tais iniciativas através de contatos políticos com as autoridades vienenses da época (DANTO, E. A. As clínicas públicas de Freud: Psicanálise e justiça social, 1918-1938. São Paulo: Perspectiva, 2019).
A dor e o padecimento psíquico atingem um grande número de pessoas que, em variadas ocasiões, não têm a quem recorrer ou endereçar o seu sofrimento. Para acolher essa demanda, em 25 de abril de 1994, o Círculo Psicanalítico do Rio Grande do Sul (CPRS) fundou a Clínica de Atendimento Psicanalítico (CAP), herdeira do projeto original de Freud de 1918. Desde então a Clínica se consolidou administrativamente para possibilitar o atendimento a todos que a procuram, bem como a prática clínica aos psicanalistas em formação no CPRS. Neste sentido, oferece à comunidade psicoterapia e análise pessoal a crianças, adolescentes e adultos que não tenham condições financeiras para recorrer a este tipo de tratamento em consultórios particulares. As sessões de terapia e análise são realizadas por membros do Instituto de Estudos de Psicanálise e supervisionadas por psicanalistas associados ao CPRS.
O primeiro contato com a Clínica de Atendimento Psicanalítico (CAP) ocorre através da secretaria, por whatsapp, telefone ou e-mail, e o paciente (ou responsável) preenche uma ficha com informações básicas – nome completo, idade, CPF, telefone para contato, local de residência, escolaridade, profissão etc. – as quais são registradas em um sistema de dados. Em seguida, um psicanalista em formação que compõe a equipe de triagem contata o paciente por videochamada, combinando previamente por whats ou telefone o melhor horário para a conversa. O triador procura, além da demanda inicial motivadora da busca pela análise, aspectos sensíveis e relevantes do paciente, visando compreender panoramicamente sua realidade peculiar e singular. A triagem é então debatida na supervisão clínica em grupo, que ocorre semanalmente, e o paciente, encaminhado para um psicanalista em formação que participa da CAP e que entrará em contato para agendar um horário e iniciar a análise pessoal.
Através dos atendimentos sociais oferecidos pela CAP, o CPRS busca levar a Psicanálise a todas as esferas da sociedade, assim como Freud propôs em 1918.