O Começo
Malomar Lund Edelweis fundou, em 26 de setembro de 1956, na cidade de Pelotas (RS), com a presença de Igor Caruso, o Círculo Brasileiro de Psicologia Profunda. Malomar era na época reitor da Universidade Católica de Pelotas. A criação da instituição se deu sob forte influência de Igor Caruso. Malomar havia sido seu analisando e discípulo em Viena. O nome Círculo Brasileiro de Psicologia Profunda fora criado por Caruso depois da Segunda Guerra Mundial. O objetivo era "repensar Freud a partir de sua origem". Em 1960, o CBPP se transferiu e iniciou suas atividades em Porto Alegre com cinco candidatos em formação. A partir daí, a instituição gaúcha consolidou-se, passando a se chamar Círculo Brasileiro de Psicologia Profunda - secção do Rio Grande do Sul. No fim dos anos 60, houve nova alteração do nome, sendo o que permanece até hoje, Círculo Psicanalítico do Rio Grande do Sul. O CPRS é uma sociedade psicanalítica freudiana aberta ao aprofundamento dialético do pensamento psicanalítico e sua evolução.
A Segunda Guerra Mundial
Com o advento da Segunda Guerra Mundial e a perseguição nazista a partir de 1938, 68 psicanalistas associados e 38 candidatos da Sociedade Psicanalítica de Viena saíram da Áustria. O próprio Freud migrou para Londres. A guerra praticamente dissolveu o movimento psicanalítico mundial, resultando num processo de diáspora que afetou principalmente os psicanalistas de origem judaica da Europa Central e Oriental, como Freud, fundador da psicanálise. Foi nesse contexto que o CBPP - posteriormente CPRS - começou a se estruturar.
Igor Caruso e sua importância dentro da criação do CPRS
Igor Caruso (1914-1981) nasceu na Rússia em uma família de ascendência nobre italiana, razão pela qual tinha o título de conde. Cursou teologia e filosofia na Universidade de Louvain, na Bélgica, onde também fez doutorado. Analisou-se com August Aichhorn, que foi analisando de Paul Federn, o primeiro psicanalista após Freud. Depois fez análise com Victor Emil Freiherr von Gebsattel (1883-1976), analisando de Otto Seif, que teve como analista Carl Jung. Fora amigo de Rainer Maria Rilke e Lou Andréas-Salomé. Em Viena, durante a Segunda Guerra Mundial, com a extinção da Sociedade Psicanalítica de Viena e a proibição do termo “psicanálise” pelos nazistas, Caruso liderou um grupo de estudo e discussão de psicologia profunda, contribuindo para manter acesa a chama da psicanálise. Encerrada a guerra, participou da reconstrução da Wiener Psychoanalytische Vereinigung (WPV) com o Barão Alfred von Winterstein, o Conde Wilhelm Solms-Rödelheim e outros. Os três aristocratas sustentaram sob o nazismo o espírito freudiano, sem aceitar a política de colaboração de Ernest Jones, neuropsiquiatria, psicanalista galês e biógrafo oficial do Freud. Em 1947, Caruso se separou sem traumas da WPV, cuja orientação lhe parecia excessivamente médica e materialista. Fundou o Círculo Vienense de Psicologia Profunda numa alusão ao termo utilizado por Freud em diversas ocasiões. Mesmo freudiano, não aceitava os padrões de formação da International Psychoanalytic Association (IPA) e, como Jacques Lacan, queria dar à psicanálise uma orientação intelectual e filosófica.
Nesse período o professor e reitor Malomar Lund Edelweiss e Gerda Kronfeld, enfermeira de nacionalidade austríaca, mudaram-se para Viena no intuito de se analisarem com Caruso e realizarem a formação em psicanálise. Em 1956 retornaram ao Brasil e, sob a orientação e a presença de Caruso, fundaram em Pelotas o Círculo Brasileiro de Psicologia Profunda, nome dado em analogia ao Wiener Arbeistkreise fur Tiefenpsychologie. O primeiro analisando do novo Círculo foi o médico vienense Siegfried Kronfeld, marido de Gerda, que iniciou sua análise pessoal com Malomar no Brasil e terminou-a com Caruso em Viena. Em 1959, em Porto Alegre, iniciaram a formação de alguns candidatos, dentre eles Paulo Brandão e Alberto Corrêa Ribeiro, futuros presidentes do Círculo Psicanalítico do Rio Grande do Sul.
Por que pertencer a uma sociedade psicanalítica
Por sua origem, o Círculo Psicanalítico do Rio Grande do Sul encontrava-se marginalizado dos dois grupos de analistas da IPA em São Paulo e Rio de Janeiro. Na década de 60, não pertencer a uma sociedade de psicanálise filiada à IPA era uma escolha arriscada, pois implicava numa espécie de marginalização, beirando a clandestinidade. No Rio de Janeiro, havia uma sociedade filiada à corrente culturalista dos Estados Unidos. Fora esse grupo, o CPRS - e mais tarde o Circulo Brasileiro de Psicanálise - foi a principal sociedade psicanalítica não filiada à IPA no Brasil. Aliás, o Círculo Vienense de Psicologia Profunda, atualmente denominado Círculo Psicanalítico de Viena, sociedade fundada por Igor Caruso, também se desenvolveu e estruturou-se à margem da IPA.
Em Belo Horizonte, na década de 60, o Círculo encontrou a sua verdadeira vocação. A tradução do nome é corrigida para Círculo Brasileiro de Psicanálise, com as seções de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul. Posteriormente, foram criados os Círculos do Rio de Janeiro, pela incorporação de dissidentes da IPA, da Bahia e de Pernambuco, pelo deslocamento de associados de Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Seguiram-se novas filiações, como GREP, IEPSI, Círculo de Sergipe e Sociedade Psicanalítica da Paraíba. Na década de 90 eram 9 sociedades federadas ao Círculo Brasileiro de Psicanálise (CBP).
No final da gestão 82/84, o Circulo Brasileiro de Psicanálise deixa de ter uma ingerência tão direta nas unidades locais e torna-se uma Federação dos diversos Círculos. Com isto, atenua-se o exercício do poder e se ganha em representatividade e autonomia dos Círculos locais. Hoje o Círculo Brasileiro de Psicanálise se configura como uma Federação de Sociedades Psicanalíticas, formado por seis instituições: Círculo Psicanalítico do Rio Grande do Sul, Círculo Psicanalítico de Minas Gerais, Círculo Brasileiro de Psicanálise - Seção Rio de Janeiro, Círculo Psicanalítico da Bahia, Círculo Psicanalítico de Sergipe e Círculo Psicanalítico do Pará. Publica uma revista semestral intitulada Estudos de Psicanálise desde 1968, propicia o intercâmbio entre os sócios através de informativos periódicos, reuniões semestrais e congressos a cada dois anos sediados por uma das instituições do CBP.
Quadro genealógico
O quadro abaixo mostra a árvore de fundação do Círculo Psicanalítico do Rio Grande do Sul. Começa com Freud, passa pelos primeiros a estudar com ele e a exercer a psicanálise, pela primeira sociedade psicanalítica (WPV), segue pelos fundadores do CPRS e pelos primeiros analistas formados na instituição.